sexta-feira, 29 de março de 2013

"Sputnik, Meu Amor", Haruki Murakami

  Esta foi a minha primeira viagem no mundo incomparável de Murakami. Sim, porque em qualquer livro que lemos deste autor nipónico, somos convidados a entrar num universo paralelo... A narrativa que ele nos impõe, tem algo que é capaz de cativar o autor com as frases e ideias mais simples. E este livro ilustra isso muito bem.

   A história é contada por K, um professor da Escola Primária que se apaixona por Sumire, que ambiciona ser escritora. Apesar de desenvolver um grande afecto pela jovem, K limita-se a ser um amigo e confidente para a jovem. Quem conseguiu encantar Sumire foi uma senhora misteriosa, de meia idade, chamada Miu.

   É por esta "tríade amorosa" pela qual Murakami desenvolve este livro. Mais do que um simples romance, é uma interpretação psicológica do ser humano. A dada altura, a cumplicidade de Miu e Sumire leva ambas a passar uns tempos juntas, numa ilha grega. Aquilo que nos parece à primeira vista como uma inocente "escapadinha", acaba por se revelar como a descoberta das próprias personagens. Sumire desaparece nessa viagem, e Miu pede a K que a ajude na busca...

   Não é, de todo, o típico triângulo amoroso "cliché", tão explorado na narrativa romântica. Há aqui uma preocupação do autor em mostrar a verdadeira importância do outro numa relação. A solidão, que é tão presente na aura de cada um destes três, é prova disso mesmo. Eu desejo essa pessoa, porque gosto da sua peculiaridade, ou porque me sinto bem ao seu lado? Será que quando estamos acompanhados, não conseguimos apagar a solidão que sentimos?

   E estando nós a falar de Murakami, o surreal quase que nos passa despercebido na narrativa. Está tão imbuído na história, tão viciante, que nos esquecemos do espanto que por vezes nos causa. A acção das personagens, as suas aventuras sexuais, a música clássica... tudo está em perfeita sincronia com a temática central.
  
   Não considero, de todo, como uma das obras mais marcantes do autor. Mas talvez por ser o primeiro que li, ou pela introspecção sobre a condição humana, (quase de forma inconsciente) terá sempre um lugar especial na minha estante... O livro chama-se "Sputnik, Meu Amor", o autor é Haruki Murakami, e em Portugal é editado pela LeYa (Casa das Letras).

terça-feira, 26 de março de 2013

"Uma Morte Súbita" de J.K.Rowling

Quem pensa em J. K. Rowling pensa invariavelmente em Harry Potter. No entanto, a autora quis demonstrar que sabe escrever para um público mais adulto com “Uma Morte Súbita”. Na vila de Pagford, local onde se passa toda a acção, existem inúmeras personagens. Confesso que se no início a nossa mente se mostra confusa com o número excessivo de personagens em redor de uma morte súbita, depois, o enredo fascina-nos e não mais largamos o livro até ao final pois entretanto criámos laços com determinadas personagens e queremos saber como acabam.

A obra apenas peca por não ter um esquema com as personagens centrais e a ligação entre elas. Foi o que fiz assim que comecei a ler pois senti necessidade de um apoio em termos de nomes das figuras que vão entrando no enredo. Quando de repente Rowling coloca em cena dezenas de personagens com ligações familiares e de amizade já que todas se conhecem, instala-se o caos: demasiadas personagens, demasiados enredos e demasiada informação.
Claro que não podemos ler este livro sem nos recordarmos de Potter, afinal foi e será sempre um marco na carreira literária da inglesa que deu aulas de inglês no Porto.
Vamos situar um pouco a história: Barry Fairbrother morre e a vila onde vive entra em alvoroço, já que este chefe de família era vogal na Assembleia Comunitária daquela comunidade. Os cidadãos, vão-nos sendo apresentados, assim como as suas famílias, todas elas se cruzam, conversam, passeiam… Acredito que em Pagford não existe uma única família dita normal: toxicodependência, violência doméstica, suicídio, famílias desmembradas. Rowling reflecte um pouco a sociedade actual num universo pequeno, que no início parece ser demasiado pequeno.
“Uma Morte Súbita, é o livro que qualquer um poderia ter escrito. Não é uma obra-prima: apenas entretém. Esperemos pelo próximo…


Uma Morte Súbita, Presença

sábado, 23 de março de 2013

Escrita, escritores, livros...


Mas afinal quem é que escreve? Os escritores são muitas vezes só e apenas escritores mas há aqueles que já se dedicaram a outras actividades: ex-jornalistas, médicos, biólogos, matemáticos, até actores e gentes ligadas aos audiovisuais. Há de tudo um pouco:  H. G. Wells era professor, José Saramago foi funcionário público, Herman Melville foi ajudante de navio mercante. Então pouco importa a que actividades se dedicavam anteriormente? Claro que não! Tudo o que fizeram antes importa e muito! Muito provavelmente foi aí que se inspiraram: temos o exemplo mais flagrante, Melville trabalhou num navio e foi aí buscar inspiração para o seu Moby Dick. Não se trata, como é evidente, de um factor obrigatório. Podem buscar inspiração no seu simples dia-a-dia, conversas que ouvem, ou desenvolver simplesmente uma ideia que lhes surgiu na mente.

 “Um escritor, é antes de tudo, um leitor” dizia Machado de Assis, e assim tem que ser. O escritor tem que saber responder às exigências dos leitores, tem que saber o que procuram. Embora a escrita seja um trabalho solitário, escrevem muitas vezes fechados em casa, no silêncio. Será que pensam naquilo que o público realmente deseja?

E depois há aqueles que seguem tendências, lembro-me da moda dos vampiros, foi um surto de enredos sobre estes seres, ou a moda dos diários cómicos para os leitores mais pequenos, ou a ainda recente, talvez já em rescaldo, moda de histórias eróticas. Por vezes surgem estas epidemias, cansativas e inexplicáveis aos olhos de quem lê regularmente. Contudo, devemos tirar o chapéu a estes autores que conseguem pôr milhares de pessoas sem hábitos nenhuns de leitura a ler um livrito de vez em quando. Por isso defendo sempre estas modas, passageiras claro, de histórias que pouco ou nadam dizem e levem estes leitores esporádicos a olhar uma vez por outra para a montra das livrarias.

quinta-feira, 21 de março de 2013

"Por Favor, Não Matem a Cotovia" de Harper Lee


Ganhou o prémio Pulitzer em 1961 e pouco mais escreveu. Falo de Harper Lee e do seu Por Favor, não Matem a Cotovia.
A história é narrada em retrospectiva por Scout, aquando dos seus 7 anos, e que vai dando conta do quotidiano da comunidade conservadora em que vivia. Narra as suas brincadeiras com o irmão, Jem, da vivência do pai, Atticus, um advogado respeitado na pequena cidade de Maycomb, do vizinho que passa dias e dias fechado em casa… Todo um enredo pautado pelo racismo e severos preconceitos.  Depois, os anos vão passando e se inicialmente brincava com o seu irmão e o amigo Dill, Scout começa a andar mais solitária até que foca a situação fulcral de todo o enredo: um negro injustamente acusado da violação de uma jovem branca. Enfim, o desfecho é triste mas denota uma réstia de esperança na sociedade.
Trata-se de um livro que se lê muito bem. Embora a acção seja lenta, trata-se maioritariamente de uma descrição das vivências da menina.


“As cotovias não fazem mais nada senão cantar para satisfação nossa. Não comem coisas nos jardins das pessoas, não fazem ninhos nas searas, não causam danos a ninguém. É por isso que é pecado matar uma cotovia.”
Mataram a Cotovia, Relógio D'Água