sábado, 29 de junho de 2013

O mundo de SJ Perelman

O livro é um conjuntos de vários contos humorísticos curtos escritos entre 1930 e 1970 que faz parte da colecção de Ricardo Araújo Pereira. 

Faz-me lembrar o stand-up comedy de hoje em dia, com a diferença de que em vez de serem contados na TV ou em teatro são escritos. SJ Perelman pega em situações acontecidas na sua casa em Pensilvânia, em viagens que realizou ou argumentos em que fez parte e ridiculariza-os, ou melhor, fala sobre eles de uma forma tão natural, referindo o que passou e vivenciou, o que sentiu (nunca tem bons pressentimentos sobre o que vai acontecer) que os torna bastante engraçados.

Pode pegar também numa notícia, numa imagem, num filme, qualquer situação e consegue imaginar toda uma cena, onde nos descreve em forma de texto dramatúrgico, da qual reproduz grandes diálogos.

Achei a maior parte das histórias engraçadas, algumas eram mais piadas da época, tinham mais significado naquela altura do que hoje em dia. Quase todos os locais, livros ou filmes terão existido de facto e estão referenciados em nota de rodapé.

O Mundo de SJ Perelman, Tinta da China


quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Terceiro Gémeo - Ken Follet

 
Previsível é a palavra que descreve este Terceiro Gémeo de Ken Follet. Publicado na língua original em 1996 quando se falava na ovelha Dolly, parece a clonagem - já em 2012, data de relançamento em Portugal - um tema desactualizado.
Foquemo-nos na história. Jeannie Ferrami é uma cientista, especialista em gémeos, que estuda os componentes genéticos responsáveis pela agressividade nos indivíduos. Na sequência do seu estudo descobre que dois indivíduos são gémeos: um deles é um simples estudante de direito por quem acaba por se apaixonar, o outro é um assassino que está preso mas os dois homens nasceram em dias diferentes. Jeannie percebe que algo está mal e procura respostas. A história mete violações, roubos, trocas de identidade e fertilizações in vitro num só saco. Tudo isto no espaço de uma semana. A história é contada na 3ª pessoa e dá a conhecer várias personagens mas nenhuma delas é aprofundada. Sabemos que Follet deu bastante ênfase ao brinco usado por Ferrami na narina.
Um livro que envolve conspiração, estudos académicos, política e corrupção. Um misto que teria tudo para dar certo se Follet não fosse demasiado previsível na sequência do enredo.
A Dra. Ferrami fica com o gémeo bom, destrói as carreiras dos gestores de topo envolvidos, salva o pai da má vida, e vai passar a lua-de-mel às Caraíbas. É este o final com que nos brinda Follet. Se não é previsível, não sei o que é. Esperava mais deste autor de quem se fala tanto devido aos seus Pilares da Terra.
Surgem também certas incongruências referentes a alguns episódios: será possível um recluso conseguir esconder dos guardas uma ratazana no bolso e tentar violar a cientista em plena sala de visitas com um polícia lá dentro?
Publicado pela Bertrand.


 

O Livro…

Quando era miúda não gostava de ler, não por falta de influência, já que a minha mãe sempre adorou ler, principalmente policiais. Mas não era uma actividade que me puxasse. Sempre adorei aprender matérias novas mas ler...

Penso que a escola assim como estava não incentivava (não sei como está neste momento) os alunos à leitura, os livros que davam eram aborrecidos (por exemplo, “Os Maias”), com demasiados significados, muito intrincados, principalmente a poesia (Fernando Pessoa, “Lusíadas”), o que uma pessoa pensava que era o seu significado afinal não tinha nada a ver (o que no meu caso era motivo para a desmotivação), não havia grande liberdade para os alunos dizerem o que pensavam, puxar pela imaginação, ver para além do que está definido.

Uma coisa boa que fizeram já na época do meu irmão, cerca de 5 anos mais tarde, foi que, além dos livros escolares obrigatórios, os alunos tinham de escolher um livro (o meu irmão decidiu ler “O Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas), fazer um resumo e apresenta-lo à turma.

Na minha opinião, é uma das hipóteses de incentivo à leitura, são os alunos que escolhem os livros, os que acham que têm mais piada, mesmo os mais simples, com mais desenhos, mais banda desenhada, o que for. Basta um clique para que uma criança/adolescente/adulto comece a ler e a querer mais e mais, basta “apanhar” o livro certo.

Claro que não se devem desdenhar os livros que são dados na nossa escola, trata-se da nossa História, da nossa Cultura e devem ser lidos e estudados, mas também se deve dar a hipótese dos alunos fazerem as suas escolhas, lerem, aprenderem e a dar asas à sua imaginação para quando chegarem à idade adulta saberem também decidir por eles próprios sem estar à espera que outros lhes digam as respostas.

O meu caso é irónico, o clique foi a “Aparição” de Vergílio Ferreira (livro obrigatório na altura). Se me pedirem para fazer um resumo, já não o conseguirei. Mas recordo-me que naquela altura era um livro diferente de todos os outros, mais melancólico, sim, mais depressivo, sim….mas diferente, falava de coisas que eu conhecia, por exemplo Évora, falava de sentimentos, do significado da vida, tomei consciência de coisas que passavam despercebidas. Uma questão tão simples e corriqueira como reparar que de tanto dizeres uma palavra ela deixa de ter sentido, e será que o facto de deixar de ter sentido será que deixa de ter significado?

E é isso que é mágico num livro, consegue dizer, o autor consegue transcrever, tudo o que o leitor está a sentir e não consegue dizer por palavras ou que nem sequer tinha tomado consciência. É como se houvesse uma relação leitor/autor. O leitor lê e pode rever-se no que está escrito. O autor consegue levar o leitor a sair da sua realidade e levá-lo para dentro do livro, a ser o personagem principal, a ser o herói, a ter mais afinidade com este ou aquele personagem, a querer dar um calduço a “A” porque não vê o que está a frente dos olhos. Concluindo, o livro pode entrar na mente de uma pessoa de tal modo que consegue despertar todo o tipo de sentimentos, desde risinhos e gargalhadas, choramingos e choradeiras e até revolta ou raiva. Mas o melhor é conseguir ser-se surpreendido.

Abre mentes para outras realidades, desvaloriza situações que pensávamos importantes e que afinal nós é que estávamos a empolar e pode mostrar outras realidades que nunca pensávamos que existissem ou sabíamos que existiam mas estamos tão interiorizados com os dogmas da sociedade, que tomamos certas situações como certas e intocáveis e desvalorizamos as restantes.

E depois há aqueles livros fantásticos de autores magníficos como J. R.R. Tolkien, que constroem um mundo desde o começo do Tempo até agora, que nos transporta para uma realidade completamente diferente e irreal e no entanto tão credível que parece que existiu de facto.


Claro que ainda assim muitas pessoas continuarão a não ler e a não gostar de ler, é sempre uma questão de gosto, paciência, disponibilidade. No entanto, acho que nunca é nem nunca será uma perda de tempo ler (ou tentar ler) um livro porque nunca se sabe o que estará nele encerrado.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

“Histórias Extraordinárias” de Edgar Allan Poe

O livro que trago hoje é “Histórias Extraordinárias” publicado pela primeira vez em 1839 em dois volumes com o nome “Tales of the Grotesque and Arabesque”.

Tendo lido pela primeira vez este tipo de livro, sobre mistério, suspense e terror, achei alguns bastante macabros principalmente o primeiro conto “A Pipa de Amontillado” que por uma mera (digo eu) questão de um insulto levou a um final daqueles. Foi o que mais me impressionou, talvez por ter sido o primeiro que li. O que não quer dizer que não tenha gostado, muito pelo contrário. Devo dizer que não é o mais horrendo, essa lista penso que começará pela “Berenice” e depois pelo “O Gato Preto”.

Os contos são sempre narrados na primeira pessoa e falam normalmente da morte, incluindo os presságios de morte (“A Esfinge”), a sensação que se tem quando sabe (ou pensa que sabe) que vai morrer (“O Poço e o Pêndulo” e “Manuscrito Encontrado Numa Garrafa”), os efeitos da decomposição (“O Gato Preto”), o ser-se enterrado vivo (“O Enterro Prematuro” e “Berenice”), o luto (“Ligeia”) e a reanimação dos mortos (“Morella” e “Ligeia”).

Além deste tema, insere-se também o lado mais negro da personalidade da personagem principal, o seu grau de loucura (“O coração delator”, “O Gato Preto”) e o seu grau de obsessão (“A Caixa Longa”, “O Demónio da Perversidade” e “Berenice”).

 “Metzengerstein” retrata também a morte mas vai mais para o lado da lenda, é uma história engraçada. “O Escaravelho de Ouro” foi o que menos gostei, é o conto mais longo, tem também um final misterioso e algo sinistro, no entanto é mais do género livro de aventuras… a procura de um tesouro de piratas!

Quanto a “William Wilson”, é semelhante ao último livro sobre o qual escrevi - “O Homem Duplicado” – que falava de duas pessoas totalmente iguais, voz, físico, tudo. É semelhante até no ponto que despoleta a finalização da tormenta - a luxúria. No entanto achei que faltava qualquer coisa. Essa coisa encontrei-a neste conto. Além da vitória de um sobre o outro, é mais negro. A morte física de um é a morte interior do outro.

Histórias Extraordinárias, Leya