terça-feira, 28 de maio de 2013

"O Homem Duplicado" de José Saramago

Personagem principal: Tertuliano Máximo Afonso.

Devo dizer que não é dos meus livros preferidos de José Saramago, estava à espera de mais qualquer coisa. Faltou ali talvez um pouco mais de “combate”.
No entanto, gostei pela parte de nos fazer pensar sobre a nossa identidade e de como a nossa vida (e a dos que nos rodeiam) pode mudar radicalmente devido a um, neste caso, filme aparentemente inofensivo:
- Quando um homem na sua pacata vida se vê diante de uma situação inesperada, o que faz?
- Poderá ter uma crise de identidade?
- E essa crise, fá-lo revelar o mal ou o bem que há em si?
- Será que tem um Senso Comum suficientemente apurado para o ajudar a ver o que está certo ou o que está errado?
- Será que sabe parar?
- Ou aquilo que mexe dentro dele é de tal forma obsessivo e atormentador que não consegue?
- Porque o faz?
- Curiosidade? Obsessão? Medo?
- Gozo? Vingança?
- Pensa que tem o total controlo da situação…e afinal, é ele o controlado.
- Assim, quanto às decisões que vai tendo, pensando que está a tomar um rumo supostamente inofensivo, será que tem a plena consciência das consequências que trazem?
- E acha que consegue lidar com as consequências inesperadas?
- Sabe que afectam os que o rodeiam?
- Sabe que o afecta a ele para o resto da vida?

O Homem Duplicado, Caminho

A Princesa de Gelo de Camilla Läckberg

Intrincado. Nenhuma outra palavra descreve melhor o livro de estreia da sueca Camilla Läckberg. É o típico policial: a investigação de um homicídio revela segredos antigos de três famílias oriundas de uma pacata vila costeira da Suécia. Todo o cenário é gelado: desde o próprio título até às paisagens descritas por Läckberg. Erica, a protagonista, vê Alexandra, a sua amiga de infância morta e, a pedido da família, começa a escrever uma biografia sobre ela mas para isso terá que fazer uma investigação sobre a sua vida, já que há mais de vinte e cinco anos perderam o contacto. A par com a investigação policial, Erica vai descobrindo assuntos antigos bem enterrados. Várias personagens vão surgindo mas a autora descreve-as bem e nem sequer temos dificuldade em memorizá-las, por vezes, os escritores caem no erro de dar a conhecer demasiadas personagens mas aqui, tudo é bem descrito e no tempo correcto. Certos aspectos vão sendo desvendados e só no final ficamos a saber quem foi o assassino. Mas nem só deste assassínio vive o livro, temos o romance entre Erica e Patrick, o polícia que vai desvendando factos no caso e se entreajudam, a relação com a sua irmã, Anna... Existe uma série de histórias à volta da trama principal que constroem toda esta realidade na pacata vila.
Läckberg constrói as personagens de tal forma que algumas nos chegam a irritar e a querermos esmurrá-las especialmente quando descobrimos que algumas são violentas fisicamente e outras tão cínicas e falsas.
Claro que se trata de um típico policial, não trazendo por isso nada de novo, mas para quem gosta do género não se irá arrepender. Até descrevem Läckberg como a nova Agatha Christie...  


Sinopse
De regresso à cidadezinha onde nasceu depois da morte dos pais, a escritora Erica Falk encontra uma comunidade à beira da tragédia. A morte da sua amiga de infância, Alex, é só o princípio do que está para vir. Com os pulsos cortados e o corpo mergulhado na água congelada da banheira, tudo leva a crer que Alex se suicidou.
Quando começa a escrever uma evocação da carismática Alex, Erica, que não a via desde a infância, vê-se de repente no centro dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, Patrik Hedström, que investiga o caso, começa a perceber que as coisas nem sempre são o que parecem. Mas só quando ambos começam a trabalhar juntos é que vem ao de cima a verdade sobre aquela cidadezinha com um passado profundamente perturbador…

A Princesa de Gelo, Dom Quixote

domingo, 26 de maio de 2013

As Cidades Invisíveis - Italo Calvino

Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
– Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? —pergunta Kublai Khan.
– A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra —responde Marco—, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
– Por que falar em pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
– Sem pedras, o arco não existe.

domingo, 19 de maio de 2013

O Bom Inverno - João Tordo

Ganhou o Prémio Literário José Saramago e é um dos nomes mais promissores da nova geração de autores portugueses. Apresento João Tordo. Lançou o seu primeiro livro em 2004 e em 2010 este seu Bom Inverno do qual irei falar.

Assassínios... Tordo opta por matar quase todas as personagens ao longo do seu livro. Custa a entrar na história pois a narrativa é lenta, talvez demasiado lenta, sem grandes desenvolvimentos que consiga agarrar o leitor. Uma lentidão que é salpicada por picos tensos e enérgicos mas uma obra maioritariamente morosa. A personagem principal, um escritor de 35 anos vê-se envolvido na trama quase por obrigação já que foi a Budapeste para participar num encontro de escritores e repentinamente vê-se no meio de um grupo de jovens escritores que desejam ir a Saubadia, em Itália, à casa de Don Metzger, um realizador que está interessado numa obra do namorado de uma das raparigas do grupo.
A personagem tenta manter-se sempre à margem até que Metzger aparece morto. Depois, é a descoberta do que realmente aconteceu: quem o matou e qual o motivo. Enquanto não se descobre o assassino ficam reféns naquela terra de ninguém.

O final fica em aberto e o leitor não chega a saber o que realmente aconteceu naquela estranha casa onde se juntou um grupo de pessoa de várias nacionalidades que foram morrendo uma a uma. Há colocada uma hipótese pela personagem principal que é bastante válida já que o autor não nos indica qualquer pista, mas mesmo essa hipótese é meramente uma suposição para tentar escapar àquele inferno. O Bom Inverno não é um livro a reter, ficamos sempre com a sensação que não nos ligámos às personagens e que nem os chegámos a conhecer solidamente para concluir o que seja.


O Bom Inverno, Colecção Bis

domingo, 12 de maio de 2013

A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón


Zafón escreve verdadeira poesia, é um narrador nato. Nesta Sombra do Vento, o autor fez um trabalho exemplar: a narrativa flui naturalmente, nada é forçado, cada capítulo prende-nos e faz a ligação ao que se segue. O autor vai desenrolando o fio condutor e o leitor vai descobrindo mais acerca da personagem central. Cada página que se vai virando é uma descoberta, que nos vai deixando de boca aberta no desenrolar da acção com tantas reviravoltas. A Sombra do Vento manteve-se mais de 60 semanas no top dos mais vendidos em Espanha e percebe-se porquê: mistério, drama, romantismo, o autor vale-se de tudo para escrever esta obra maravilhosa.
A história? Daniel Sempere, um rapaz de 11 anos, visita com o pai o Cemitério dos Livros Esquecidos e selecciona um livro. Livro esse que condena a sua própria vida pois depressa descobre que todos os livros desse autor foram queimados. E como curioso que é, tenta descobrir mais acerca da vida desse autor, Julián Carax e aí surge a perseguição, a descoberta do que aconteceu no passado, o amor, o mistério... É uma enorme aventura passada nas ruas de Barcelona dos anos 40 e estende-se até à vida adulta do nosso querido Daniel.
A história foi construída de tal forma que imagino facilmente uma adaptação cinematográfica.

 

sábado, 4 de maio de 2013

“Bons Augúrios” de Neil Gaiman e Terry Pratchett


Este livro fala sobre o Fim do Mundo, do Armagedão, da Batalha Final entre o Bem e o Mal.

Começa por contar os últimos preparativos até chegar à batalha final realizados pelo Demónio Crawly (representante do Inferno) (que muda para Crowley, uma vez que Crawly significa “rastejante” e Crowley sempre é um “topónimo americano, além de antropónimo inglês”), pelo Anjo Aziráfalo (representante do Céu) e pelos quatro motoqueiros do apocalipse (Guerra, Fome, Poluição – sim, Poluição – e Morte).

No entanto, uma pequena troca de bebés, coloca o Anticristo o Adversário, Destruidor de Reis, Anjo do fosso sem Fundo, Grande Besta que é chamada Dragão, Príncipe deste mundo, Pai das Mentiras, Descendente de Satã e Senhor das Trevasna família errada e é onde toda a história começa.

Uma vez que Crowley e Aziráfalo são grandes apreciadores do modo de vida na Terra, tentam de todos os modos e feitios sabotar o Armagedão. Mas a melhor parte é quando o próprio Anticristo decide que o Fim do Mundo não tem jeito nenhum e tenta, também ele, o boicote. O Mundo tem tantas coisas boas, para quê acabar com ele? Porque é que fazem as pessoas, deixam-nas comportar como pessoas e depois as castigam por isso?

Mas… será que o objectivo não era de facto sabotarem o fim do mundo? Será que não foi feito de propósito para que tudo corresse mal? Será que não era um teste? Será que não era apenas uma transição para o verdadeiro Armagedão?

Para mim, apesar de se encontrarem bastantes erros ortográficos, é de esquecer esses pormenores, já que é um livro extraordinário, muito bem-humorado e extremamente divertido. Dei de facto umas valentes gargalhadas. É bastante surpreendente como, de uma forma humorada e irónica, mostra um outro lado, um outro modo de pensar sobre o Inefável Plano. Mostra uma perspectiva completamente diferente do que foi dito e feito até agora sobre o que é o Bem e o que é o Mal e sobre o que é a essência das pessoas.

Aqui fica uma das minhas passagens preferidas:
Cão já perseguira uma ratazana. Fora a mais adorável experiência da sua vida. (…). E além disso havia os gatos, pensou Cão. Surpreendera o grande gato ruivo dos vizinhos e tentara reduzi-lo a uma geleia temerosa usando o habitual olhar flamejante e o rosnar profundo na garganta, que já no passado resultara tão bem com as almas penadas. Porém, desta vez, tinham-lhe valido uma patada no nariz que lhe fizera chegar as lágrimas aos olhos. Os gatos, considerou Cão, eram obviamente bastante mais duros que as almas penadas. Estava ansioso por uma nova experiência com gatos, que, segundo planeara, iria consistir em andar-lhes à volta aos saltos e latir-lhes com grande excitação. Era um plano desesperado, mas talvez resultasse.”

Bons augúrios, Editorial Presença