sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Claraboia de José Saramago

Imagine 6 inquilinos a viver num prédio: um sapateiro que ama perdidamente a sua esposa, uma espanhola, o marido e o filho que andam sempre às avessas, a senhora prostituta, um casal com a filha adolescente, e quatro mulheres e um casal cuja filha morreu  ainda criança,. Agora imagine o enredo que isto dá, as cusquices, os desentendimentos, os desencontros, as vivências e as conversas ouvidas no patamar do prédio... O que é que isto dá? Claraboia de José Saramago. O autor afirmou tratar-se do seu livro mais ingénuo, talvez por ter sido o primeiro que escreveu e ainda estaria a definir a sua própria forma de escrita.
Trata-se de uma história muito divertida em que todos os personagens se conhecem e tece-se desta forma todo o enredo, os acontecimentos entrelaçam-se entre conversas de vão de escada, olhares entre janelas, ouvidos à escuta e muitos mexericos, talvez demasiados. Mas é assim a vida quotidiana de muitos prédios, um retrato muito fiel e actual da vida.
Saramago utiliza aqui uma sintaxe totalmente diferente com que nos brindou nos títulos posteriores mas ainda assim trata-se de um obra de referência de um autor que trouxe para as luzes da ribalta a literatura portuguesa.

Claraboia, Caminho

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Balada do Café Triste de Carson McCullers

Um romance sobre o amor onde três personagens entram em conflito: Amélia Evans, dona de um café situado numa pequena povoação norte americana, o seu primo Lymon, um corcunda metediço e briguento e Marvin Macy, o vilão da história e da vila com quem Amélia esteve casada durante 10 dias.
Uma história pautada pela solidão já que quando o primo Lymon chega e se apresenta à fria Amélia há logo ali um amor incondicional, um amor cego já que começam a estar juntos o dia inteiro e Amélia partilha tudo com o seu primo. Marvin surge então depois de uma estadia na prisão e vem estragar este ambiente ameno. Lymon começa a desprezar Amélia e torna-se inseparável de Marvin.
Ao ler esta Balada fiquei com a sensação que a vida destas personagens era vazia, sem grandes sentimentos, a viver de forma bastante rude e que encontram entre eles sentimentos de amor/ódio muito marcados. É este enredo que dá cor à vida na povoação pois os habitantes observam e comentam as atitudes do trio enquanto vivem as suas vidas tranquilas. O café é o local de animação e de conversas fora de horas.
...Um pequeno livro que se lê num ápice.


A Balada do Café Triste, Presença

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

J.K.Rolling escreve sob pseudónimo

 
A notícia já não é recente mas ainda não o tínhamos anunciado aqui no Letras em Letra! J.K. Rolling escreveu o policial "The Cuckoo"s Calling" sob o pseudónimo de Robert Galbraith. O livro foi publicado em Abril e só mais tarde Rolling assumiu a autoria da obra. Diz ela que escrever em segredo foi uma experiência libertadora e dessa forma obteve críticas mais sinceras à sua forma de escrita.
Longe de Harry Potter e de Uma Morte Súbita, a autora estreia-se assim nos policiais onde foi buscar inspiração em Sherlock Holmes e no seu amigo Watson e em obras de Agatha Christie. "The Cuckoo"s Calling" é protagonizado por Cormoran Strike, um ex-militar que vive em condições precárias e a quem a guerra deixou algumas mazelas. Este ex-combatente tem uma ajudante, Robin, uma secretária com a ambição secreta de se tornar detective. Rowling já anunciou que pretende que ambos protagonizem uma série de vários romances.
Para já ainda não há tradução portuguesa mas os interessados já podem adquirir a versão inglesa em qualquer livraria. 

Ler de pernas para o ar

Esta fotografia altamente sensual foi tirada em 1992 para o anúncio do designer Gianfranco Ferré. Linda Evangelista é a modelo.

Um dia vou ter uma parede com estes livros todos e, nessa altura, tentarei ler de pernas para o ar. Já sei que não conseguirei esta pose tão sexy, o sangue me vai subir à cabeça e darei um grande tralho antes que consiga ler alguma coisa. Mas deve ser épico tentar.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os Funerais da Mamã Grande

Os Funerais da Mamã Grande, D. Quixote


Sete pequenos contos integram este Funerais da Mamã Grande de García Marquez. A acção passa-se em Macondo, a cidade de Cem Anos de Solidão. Ok, são contos e por isso não tem histórias que mostrem o escritor maior que este colombiano é, mas não é por isso que nos deixa de deslumbrar o seu imaginário e as histórias um tanto ridículas que inventa. Ridículas pois não levam a lado nenhum, não têm um final nem trágico nem conclusivo. São o que são e García Marquez faz-nos entrar no enredo e torcer pelo final feliz dos personagens. Gostei particularmente do conto: "Neste Povoado não há Ladrões", onde o marido de uma mulher grávida rouba bolas de bilhar e no final é feita justiça.
Os contos são, normalmente, obras menores pois quando entrámos na história, ela acaba. Por isso não fazem sucesso mas para quem gosta de Gabriel, vale  muito a pena lê-los...

sábado, 14 de setembro de 2013

"O Mágico - Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel" de Michael Scott

É altamente irritante quando estás a ler um livro e reparas que tem montes de referências a um outro livro. Vais pesquisar sobre o livro e respectivo autor e percebes que o que estás a ler é o 2º volume de um conjunto de 6 (até agora).

Mas porque é que não escrevem isso na capa? Ou nalgum sítio?

Agora percebo porque o início era muito rápido sem grandes apresentações e tudo muito de repente. Que bom. Agora tenho de o parar e ir comprar o mais rápido possível o primeiro livro porque a história parece-me muito interessante.

Falo de "O Mágico - Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel":


Sinopse:
Califórnia:
Nas mãos do Dr. John Dee e dos Anciões Negros, o Livro de Abraão, o Mago pode significar a destruição do mundo como o conhecemos. O mais poderoso livro de todos os tempos contém o segredo da vida eterna, um segredo que nenhum homem deveria possuir. E Dee está apenas a duas páginas de deter o conhecimento necessário para entregar o poder aos Anciões Negros. Qual o único obstáculo que tem de enfrentar? Josh e Sophie Newman que estão a treze mil quilómetros de distância.
Paris:
Após a fuga de Ojai, Nicholas, Sophie, Josh e Scatty surgem em Paris. A cidade das luzes e a cidade natal de Nicholas Flamel. Só que as boas-vindas são tudo menos calorosas. Niccoló Machiavelli, autor imortal, vive em Paris e trabalha para Dee. Ele persegue-os e o tempo está a esgotar-se para Nicholas e Perenelle. Cada dia que passam sem o livro, ambos envelhecem um ano, a magia enfraquece e os corpos tornam-se mais frágeis. É altura de Sophie aprender a segunda magia elementar. A Magia do Fogo. E há apenas um homem que a pode ensinar, o antigo aluno de Flamel, o Conde de Saint-Germain alquimista, mago e estrela de Rock.
Tenho a dizer que estas personagens são reais:
Nicholas Flamel -  (Pontoise1330 ou 1340 — Paris22 de Março de 1418) escrivãocopista e vendedor de sucesso francês que ganhou fama de alquimista após seus supostos trabalhos de criação da pedra filosofal. Casado com Dame Perenelle Flamel, segundo a lenda teria fabricado a pedra filosofal, o elixir da longa vida e realizado a transmutação de metais em ouro por meio de um livro misterioso.
Niccoló Machiavelli -  (Florença3 de Maio de 1469 — Florença21 de Junho de 1527) foi um historiadorpoetadiplomata e músico italiano do Renascimento. O "Príncipe" é provavelmente o seu livro mais conhecido.
John Dee - (Londres13 de Julho de 1527 — Richmond upon Thames1608 ou 1609) foi um matemáticoastrónomoastrólogogeógrafo e conselheiro particular da rainha Elizabeth I. Devotou também grande parte de sua vida à alquimiaadivinhação e à filosofia hermética.
Daqui a uns tempos voltarei para falar sobre ele. Porque é que me parece interessante? Por causa destas pessoas reais transformadas em imortais. E porque tem Alquimia pelo meio.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Lua-de-Mel de Banana Yoshimoto


Lua-de-Mel, Cavalo de Ferro


Sinopse:
Manaka e Hiroshi conhecem-se desde pequenos. Cresceram juntos, tornaram-se cúmplices, confidentes e casam-se ainda muito jovens. O seu amor foi construído sobre um passado em comum, mas as suas personalidades são muito diferentes. Manaka é serena e vive o seu jardim de forma profunda e meditativa, enquanto Hiroshi continua assombrado por traumas familiares. Hiroshi sofre a perda do avô e o casal decide então partir numa segunda lua-de-mel para a Austrália, uma viagem que lhes vai reservar surpresas, reencontros inesperados e a forte magia dos pequenos nadas.
Banana Yoshimoto envolve o leitor no romance de dois jovens cujo amor e inocência vai chocar com as mais torpes manifestações do género humano.


Mais uma japonesa e não, não faço de propósito... Parece que os autores nipónicos vêm ter comigo sem que eu dê conta.
Banana Yoshimoto é o pseudónimo de Yoshimoto Mahoko, uma senhora nascida nos anos 60, filha do filósofo Yoshimoto Takaaki. Poucos livros estão traduzidos para português mas já conta com vários prémios.
História contada na 1ª pessoa pela jovem Manaka que deseja viver um amor cheio de vida e paixão assolapada mas a relação que mantém com Hiroshi, o seu amigo de infância é tudo menos isso. Uma história melancólica mas que nos vai fazendo sorrir devido ao amor que transparece entre as duas personagens. Trata-se de um amor ingénuo pois não conheceram mais nenhum nas suas curtas vidas e vão fazendo planos para o seu futuro: terem outro cão, filhos...
Obviamente, escrita por uma mulher pois de outro modo não conseguiria passar para o leitor tanta sensibilidade na escrita. Um livro ternurento!

domingo, 8 de setembro de 2013

"O Bairro da Estrela Polar" de Francisco Moita Flores

"O Bairro da Estrela Polar" fala sobre a vida num bairro de Lisboa nos tempos de hoje. De um gangue de ladrões, traficantes e assassinos comandados por Diana.

O objectivo de Diana é matar os responsáveis pela morte do pai à 14 anos. Entretanto, comanda os assaltos e manobras da matilha. Tudo o que faz é em prole do bairro, como se fosse uma justiceira. Um bairro com pessoas que vivem todos os dias sem esperança, desempregados, com fome. 

Como diz Ravara, inspector-chefe da Polícia Judiciária:
"Há um cimento sinistro que liga os factos que lhe são imputados, e esse cimento chama-se vingança. (...). Vingança pela morte dos pais, vingança de todos eles pelas suas orfandades reais e aparentes, vingança contra o sofrimento, vingança contra a injustiça, vingança contra a ausência de esperança."
Conta o outro lado da história, dos "mauzões". Leva-nos a ter compaixão por alguns deles porque há sempre uma razão para se fazer aquilo que faz. Ao longo da história vão-se conhecendo os membros do gangue, as suas histórias, o seu passado e de como chegaram até ali. Histórias nunca felizes: violência doméstica, morte dos pais, assassínios, droga, fugas de casa. Uma vida de sobrevivência.

Gostei do livro, apesar de que, ao início, o romance torna-se algo confuso, não pela história em si, mas pelos nomes dos personagens (ou alcunhas) e pelo uso de muito calão da língua. Ficam-se a conhecer muitas expressões utilizadas entre ladrões/traficantes/burlões: urina, chinaria, panfletos, chata. 

Para dar mais realidade ao livro achei normal este tipo de linguagem para alguns personagens, tratam-se de vidas comuns do nosso dia-a-dia. Mas mesmo o narrador usa este tipo de linguagem, o que já achei um pouco forçado.

Incrivelmente, uma pessoa chega ao fim e espera que tenha um final feliz...

O Bairro da Estrela Polar, Casa das Letras

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Norwegian Wood de Haruki Murakami

Norwegian Wood é incrivelmente triste e melancólico. Em linhas muito gerais trata-se de uma viagem ao passado contada por Toru Watanabe, um jovem cujo melhor amigo se suicida e isso fá-lo pensar na vida de outra forma. Watanabe apaixona-se por Naoko, namorada desse amigo, mas com o suicídio ela bloqueia todo o ser humano que é e não se consegue entregar a outros nem avançar com a sua própria vida. Torna-se num adolescente deprimida e não consegue sair desse buraco de forma nenhuma. Por isso mesmo, isola-se num sanatório nas montanhas. Watanabe visita-a várias vezes  e promete esperar por ela. No entanto, o jovem conhece Midori, a personagem mais espontânea de toda a trama. Apaixonei-me mesmo por esta jovem! Murakami torna-a na personagem mais dinâmica, divertida, atrevida, louca e apaixonada de todo o enredo.
Nada tem de fantástico nem de surreal e apesar de ser um registo absolutamente diferente ao que já nos habituou não deixa de aquecer o nosso coração. Murakami aposta numa linguagem rica e cheia de metáforas, que a meu ver só demonstram a sua capacidade de criação:


"Gostas mesmo de mim?"
"O suficiente para amansar todos os tigres do mundo."