Quando era miúda não gostava de ler, não por falta de
influência, já que a minha mãe sempre adorou ler, principalmente policiais. Mas
não era uma actividade que me puxasse. Sempre adorei aprender matérias novas
mas ler...
Penso que a escola assim como estava não incentivava (não
sei como está neste momento) os alunos à leitura, os livros que davam eram
aborrecidos (por exemplo, “Os Maias”), com demasiados significados, muito
intrincados, principalmente a poesia (Fernando Pessoa, “Lusíadas”), o que uma
pessoa pensava que era o seu significado afinal não tinha nada a ver (o que no
meu caso era motivo para a desmotivação), não havia grande liberdade para os
alunos dizerem o que pensavam, puxar pela imaginação, ver para além do que está
definido.
Uma coisa boa que fizeram já na época do meu irmão, cerca de
5 anos mais tarde, foi que, além dos livros escolares obrigatórios, os alunos
tinham de escolher um livro (o meu irmão decidiu ler “O Conde de Monte Cristo”
de Alexandre Dumas), fazer um resumo e apresenta-lo à turma.
Na minha opinião, é uma das hipóteses de incentivo à
leitura, são os alunos que escolhem os livros, os que acham que têm mais piada,
mesmo os mais simples, com mais desenhos, mais banda desenhada, o que for. Basta
um clique para que uma criança/adolescente/adulto comece a ler e a querer mais
e mais, basta “apanhar” o livro certo.
Claro que não se devem desdenhar os livros que são dados na
nossa escola, trata-se da nossa História, da nossa Cultura e devem ser lidos e
estudados, mas também se deve dar a hipótese dos alunos fazerem as suas
escolhas, lerem, aprenderem e a dar asas à sua imaginação para quando chegarem
à idade adulta saberem também decidir por eles próprios sem estar à espera que outros
lhes digam as respostas.
O meu caso é irónico, o clique foi a “Aparição” de Vergílio
Ferreira (livro obrigatório na altura). Se me pedirem para fazer um resumo, já não o conseguirei. Mas recordo-me
que naquela altura era um livro diferente de todos os outros, mais melancólico,
sim, mais depressivo, sim….mas diferente, falava de coisas que eu conhecia, por
exemplo Évora, falava de sentimentos, do significado da vida, tomei consciência
de coisas que passavam despercebidas. Uma questão tão simples e corriqueira
como reparar que de tanto dizeres uma palavra ela deixa de ter sentido, e será
que o facto de deixar de ter sentido será que deixa de ter significado?
E é isso que é mágico num livro, consegue dizer, o autor
consegue transcrever, tudo o que o leitor está a sentir e não consegue dizer
por palavras ou que nem sequer tinha tomado consciência. É como se houvesse uma
relação leitor/autor. O leitor lê e pode rever-se no que está escrito. O autor
consegue levar o leitor a sair da sua realidade e levá-lo para dentro do livro,
a ser o personagem principal, a ser o herói, a ter mais afinidade com este ou aquele
personagem, a querer dar um calduço a “A” porque não vê o que está a frente dos
olhos. Concluindo, o livro pode entrar na mente de uma pessoa de tal modo que
consegue despertar todo o tipo de sentimentos, desde risinhos e gargalhadas,
choramingos e choradeiras e até revolta ou raiva. Mas o melhor é conseguir
ser-se surpreendido.
Abre mentes para outras realidades, desvaloriza situações
que pensávamos importantes e que afinal nós é que estávamos a empolar e pode
mostrar outras realidades que nunca pensávamos que existissem ou sabíamos que
existiam mas estamos tão interiorizados com os dogmas da sociedade, que tomamos
certas situações como certas e intocáveis e desvalorizamos as restantes.
E depois há aqueles livros fantásticos de autores magníficos como
J. R.R. Tolkien, que constroem um mundo desde o começo do Tempo até agora, que
nos transporta para uma realidade completamente diferente e irreal e no entanto
tão credível que parece que existiu de facto.
Claro que ainda assim muitas pessoas continuarão a não ler e
a não gostar de ler, é sempre uma questão de gosto, paciência, disponibilidade.
No entanto, acho que nunca é nem nunca será uma perda de tempo ler (ou tentar
ler) um livro porque nunca se sabe o que estará nele encerrado.
4 comentários:
Tudo começa no berço, na minha opinião.Já que falamos com o bébe, porque não ler um bocadinho?Todos os dias uma história...depois dar livros... aqueles de pano, cartão grosso, de banho...
Os meus filhos adoram ler e foi assim que tudo começou...
concordo plenamente, mas naquela altura não havia posses para tudo. tinha que me contentar com o que havia e só comprava livros de vez em quando, por exemplo "uma aventura em macau" ou "a lua de joana". claro que não há desculpas, havia sempre a biblioteca da escola...mas de facto, só comecei a interessar-me a sério por livros mais no secudário. foi como disse no texto, no inicio para mim era uma questão de não gostar de ler.
claro que hoje em dia há muito mais coisas à disposição, há muito mais facilidade de aprender a gostar de ler ainda em bebé. o que acho muito bem, para a frente e para a evolução é que é o caminho! :D
Sim, eu quando era pequeno ia à Biblioteca Municipal ler os livros do tio patinhas e afins. Acho que faz falta mais leitura nesta geração!
Bem verdade!!! Mas hoje em dia a internet, jogos de computador e afins estão em primeiro lugar. Aqui acho que já é uma questão de educação dos pais, é mais fácil deixar os míudos à frente da TV ou do PC.
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